Um total de 46 pessoas, incluindo jogadores, treinadores e dirigentes, chegariam a Dublin como parte da primeira viagem do Moataz Sarsour GAA Club à Irlanda. Fotografia: GAA Palestina |
Brasileiros que vivem na Irlanda ou acompanham a situação humanitária da Palestina se depararam com uma notícia preocupante: um grupo de 33 jovens atletas palestinos, integrantes da GAA Palestina, teve o visto negado para visitar a Irlanda neste mês de julho. A recusa frustrou os planos de uma turnê esportiva que já estava em fase final de organização.
A GAA (Gaelic Athletic Association) é a principal organização esportiva da Irlanda voltada a esportes tradicionais irlandeses, como o futebol gaélico (esporte que mistura características do futebol, do vôlei e do rugby) e o hurling (esporte semelhante ao hóquei em campo, mas jogado com bastões de madeira e uma bola pequena). A associação tem uma filial na Palestina, localizada em Ramallah (cidade na Cisjordânia).
O grupo pretendia chegar à Irlanda no dia 18 de julho, sendo necessário receber os vistos até o dia 14 para iniciar a viagem. Além dos 33 jovens atletas, 14 mentores também participariam da comitiva.
A negativa dos vistos foi comunicada oficialmente pelo Departamento de Justiça da Irlanda, que alegou documentação insuficiente nas solicitações enviadas à embaixada irlandesa em Tel Aviv (cidade de Israel, onde fica localizada a embaixada da Irlanda para a região). No entanto, os organizadores afirmam que toda a documentação necessária foi enviada e que qualquer item adicional solicitado poderia ter sido entregue a tempo.
A situação causou indignação entre os envolvidos. Stephen Redmond, presidente da GAA Palestina, afirmou que a recusa pode resultar em um prejuízo financeiro superior a 30 MIL EUROS, uma vez que a organização já havia efetuado pagamentos para passagens, transporte e outros custos logísticos não reembolsáveis. Segundo ele, além das perdas financeiras, há também o impacto emocional sobre os jovens, que vivem sob condições difíceis em um contexto de conflito e nutriam esperança na viagem à Irlanda como um momento de alívio e integração cultural.
Outro grupo palestino também foi afetado por atrasos semelhantes: mais de 40 jovens músicos e dançarinos do Lajee Center, uma organização cultural localizada em Belém (cidade palestina na Cisjordânia), enfrentam demora na emissão de seus vistos para viajar à Irlanda. Essa seria a terceira visita do grupo ao país. Eles estiveram na Irlanda anteriormente em 2014 e 2022, sem qualquer dificuldade com os trâmites de visto.
Orla O’Neill, voluntária que ajuda na recepção e logística das visitas, disse que acredita haver uma mudança recente na forma como os pedidos palestinos estão sendo tratados. Segundo ela, "antes os vistos eram emitidos em poucas semanas, agora enfrentamos silêncio ou recusas inesperadas".
Em resposta, o Departamento de Justiça da Irlanda declarou que o país opera com um sistema de vistos baseado em regras e que cada solicitação é avaliada individualmente. Ainda de acordo com o órgão, quando menores de idade solicitam vistos, é necessário apresentar documentação que comprove o vínculo com os pais ou responsáveis legais, como certidões de nascimento e autorizações de viagem.
Mesmo assim, organizações envolvidas no processo afirmam estar preocupadas com a possibilidade de entraves sistemáticos a solicitações de palestinos, o que pode indicar mudanças mais amplas na política de imigração. Tanto a GAA Palestina quanto os representantes do Lajee Center informaram que pretendem recorrer das decisões e manter a esperança de que os jovens ainda possam realizar a visita à Irlanda em breve.
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