Uma escavação começou em Tuam, cidade no oeste da Irlanda, em um local onde acredita-se estarem enterradas, em uma vala comum, cerca de 800 crianças que morreram entre 1925 e 1961 em um lar para mães solteiras administrado por uma ordem religiosa católica.
O trabalho é liderado pelo Gabinete do Diretor de Intervenção Autorizada da Irlanda (ODAIT) e envolve especialistas da Irlanda, Colômbia, Espanha, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. O objetivo da escavação é realizar a exumação, análise forense e reenterro digno dos restos mortais encontrados.
Histórico do caso e descoberta da vala comum
A existência do sepultamento em massa veio à tona após a
pesquisa de Catherine Corless, historiadora amadora que, em 2014, encontrou
registros de 796 mortes infantis no antigo Lar para Mães e Bebês de Tuam. Esse
tipo de instituição funcionava em toda a Irlanda até meados do século XX e
abrigava mulheres grávidas rejeitadas por suas famílias por estarem fora do
casamento, algo fortemente estigmatizado pela sociedade católica da época.
Vista geral do cemitério de Tuam, onde os corpos de 796 bebês foram descobertos no local de um antigo lar católico para mães solteiras e seus filhos [Arquivo: Clodagh Kilcoyne/Reuters] |
Muitas das crianças morreram por causas como tuberculose, sarampo, coqueluche e desnutrição. O índice de mortalidade era considerado “assustador” pela comissão oficial criada pelo governo irlandês, chegando a 15% das crianças internadas.
Investigações anteriores e contexto cultural
As primeiras escavações de teste, realizadas entre 2016 e 2017, já haviam revelado restos mortais humanos em câmaras subterrâneas conectadas a uma antiga fossa séptica, atualmente localizadas sob um condomínio habitacional.
Segundo relatos de sobreviventes e familiares, muitas mães foram forçadas a entregar os filhos para adoção — um sistema mantido com o apoio do Estado e da Igreja Católica. As denúncias geraram indignação internacional e intensificaram as discussões sobre violência institucional e negligência histórica contra mulheres e crianças.
A instituição de Tuam era gerida por freiras da Ordem Bon Secours e funcionou até os anos 1960. O prédio original foi demolido nos anos 1970, e hoje abriga moradias populares.
Justiça e reparação
Para familiares como Anna Corrigan, que acredita que dois de seus irmãos estejam enterrados no local, a escavação representa um passo importante. “Essas crianças foram privadas de todos os direitos humanos em vida, e também da dignidade na morte”, disse ela em entrevista à agência AFP.
Catherine Corless, que iniciou toda a mobilização, reforça:
“Foram anos de luta para que essa história fosse ouvida. Agora, finalmente,
estamos tentando corrigir esses erros históricos.”
Fonte: aljazeera.com
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