A polícia da Irlanda do Norte investiga um caso de incitação ao ódio após uma fogueira, acesa na vila de Moygashel (região rural na Irlanda do Norte), que continha imagens de refugiados representados por manequins de pele escura sentados em um barco inflável, todos usando coletes salva-vidas.
O evento ocorreu durante comemorações tradicionais
organizadas por grupos unionistas protestantes (grupos que defendem que a
Irlanda do Norte continue sendo parte do Reino Unido). Os presentes celebraram
enquanto a embarcação e os manequins ardiam em chamas, acompanhados de cartazes
com frases como "Parem os barcos" e "Veteranos antes dos
refugiados". Uma bandeira da Irlanda (país vizinho que é independente e
majoritariamente católico) também foi queimada.
A polícia da Irlanda do Norte classificou o caso como um incidente de ódio, e o conteúdo gerou críticas imediatas de políticos e organizações de direitos humanos, que consideraram o ato racista e desumano.
Grupos protestantes e suas comemorações: o que está por trás das fogueiras?
As fogueiras fazem parte da chamada "Temporada de
Marchas" ou "Twelfth of July" (12 de julho), uma tradição dos
protestantes na Irlanda do Norte. Elas celebram a vitória do rei protestante
Guilherme III sobre o rei católico Jaime II na Batalha do Boyne, em 1690.
Essas celebrações são organizadas por unionistas (que apoiam
a união com o Reino Unido) e, em muitos casos, também por lealistas (ramo mais
radical dos unionistas). Embora haja fogueiras em diversas cidades, algumas
acabam se tornando pontos de tensão política e étnica entre comunidades
protestantes e católicas.
Neste ano, mais de 300 fogueiras foram planejadas em todo o território. Em Belfast, por exemplo, outra fogueira gerou controvérsia por ter sido construída com materiais tóxicos (como amianto) e próxima a uma subestação elétrica que abastece dois hospitais. O governo local pediu que a população evitasse o local por risco à saúde e à segurança pública.
Reações ao caso: “demonstração de ódio” contra refugiados
O evento em Moygashel foi amplamente condenado. Patrick
Corrigan, diretor da Anistia Internacional na Irlanda do Norte, declarou que o
ato foi uma “demonstração desprezível de ódio” e um choque para as famílias
migrantes da região. Ele também lembrou que, semanas atrás, casas de imigrantes
foram incendiadas, forçando famílias a fugirem.
Colm Gildernew, do partido Sinn Féin (que defende a unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda), chamou a fogueira de “abominável” e defendeu que os responsáveis sejam responsabilizados. Já o ministro da Saúde e líder do Partido Unionista do Ulster, Mike Nesbitt, afirmou que os manequins deveriam ter sido removidos, classificando o ato como repugnante e ofensivo.
Cresce a tensão sobre a imigração no Reino Unido
A queima dos manequins ocorre em um momento de forte debate
sobre imigração no Reino Unido, principalmente sobre refugiados que cruzam o
Canal da Mancha em barcos pequenos. Recentemente, houve protestos
anti-imigrantes em cidades como Ballymena (também na Irlanda do Norte), e
políticos britânicos têm endurecido o discurso sobre o tema.
Jamie Bryson, ativista conhecido por seu apoio às tradições
unionistas, defendeu a fogueira como forma de protesto cultural e artístico.
Segundo ele, a intenção era criticar a “imigração ilegal em massa”.
No entanto, especialistas e organizações de direitos humanos
alertam que esse tipo de ação, disfarçada de manifestação cultural, pode
incentivar a intolerância e o racismo, colocando em risco a segurança de
comunidades migrantes.
Fonte: The Guardian UK
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