Conor McGregor vira símbolo da extrema-direita e anuncia pré-candidatura à presidência da Irlanda

O lutador de MMA Conor McGregor, conhecido mundialmente por suas vitórias no ringue e por declarações polêmicas, agora aparece como um dos principais nomes ligados ao movimento anti-imigração na Irlanda. Envolvido em polêmicas recentes e apoiado por setores da extrema-direita, McGregor anunciou sua intenção de disputar a presidência do país, apesar de enfrentar sérias dificuldades legais e políticas para tornar sua candidatura viável.

Conor McGregor anuncia candidatura à presidência da Irlanda. Foto: Getty Images.


McGregor e o discurso patriótico

Conor McGregor tem feito declarações públicas contra a política de imigração na Irlanda, afirmando que o país estaria perdendo sua "identidade original". Suas falas, que geram forte divisão de opiniões, vêm sendo amplamente criticadas pela imprensa local. Ainda assim, ele conta com o apoio de grupos nacionalistas mais radicais, que o veem como um possível defensor da cultura irlandesa.

Além da polêmica em torno de seus discursos, McGregor foi processado por Nikita Hand, que o acusou de agressão física (além de abuso sexual) em um hotel de Dublin, em 2018. A Justiça decidiu a favor da denunciante e o condenou ao pagamento de uma indenização por danos. O caso teve grande repercussão e contribuiu para ampliar a controvérsia em torno da imagem pública do lutador, que, apesar disso, não chegou a ser preso.

Pré-candidatura encontra obstáculos

Apesar de ter declarado que pretende disputar a presidência da Irlanda, McGregor parece não estar totalmente informado sobre os requisitos legais para tal. A lei irlandesa exige o apoio de ao menos 20 parlamentares doOireachtas (Parlamento Nacional) ou de quatro autoridades locais. Como McGregor não tem carreira política nem alianças partidárias, sua candidatura é considerada muito difícil de se concretizar.

Um de seus empreendimentos, o pub The Black Forge, tem se tornado um ponto de encontro para grupos da extrema-direita que são contra a imigração. Muitos dos frequentadores se opõem à entrada de imigrantes no país, mesmo sem conhecer a fundo as leis ou os motivos humanitários que envolvem a questão.


Movimento anti-imigração ganha espaço na Irlanda

As ideias defendidas por McGregor acompanham o crescimento dos protestos contra imigrantes na Irlanda. Em 07 de junho de 2025, milhares de pessoas participaram de uma manifestação em Cork, reclamando da chegada de refugiados e pessoas que pedem asilo no país. Os manifestantes culparam a imigração pela crise de moradia no país, sem levar em conta que esse problema existe há muitos anos por causa da falta de investimentos do governo na construção de casas. Trata-se de uma situação difícil de resolver, que precisa ser bem estudada e compreendida, algo que não cabe em explicações rápidas ou simplificadas.

Esse tipo de argumento, que põe a culpa nos imigrantes, também apareceu em protestos em Dublin, em 2023. Naquela ocasião, houve episódios de violência e destruição de lojas. A extrema-direita usou esses acontecimentos para espalhar suas ideias, mesmo que isso significasse divulgar informações falsas e incentivar o ódio contra quem vem de fora.


Slogans importados e intolerância religiosa

O uso de bonés com a frase “Make Ireland Great Again” por manifestantes revela a influência de movimentos estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos, no discurso político desses grupos. A contradição é evidente: ao mesmo tempo em que defendem a preservação da identidade nacional, importam símbolos e ideias que não fazem parte da história irlandesa.

A hostilidade contra imigrantes também se estende à religião. Um exemplo recente foi o de uma mulher irlandesa que invadiu um evento muçulmano durante um momento de oração para criticar os participantes. Ela foi retirada do local. Casos como esse mostram o impacto direto das falas de McGregor e de outros líderes em seus apoiadores, que se sentem autorizados a cometer atos de intolerância sob o pretexto de proteger a cultura irlandesa.

Vídeo em língua portuguesa mostra a invasão de uma irlandesa a um evento muçulmano em Dublin.


Envelhecimento da população e resistência à imigração

A população com mais de 65 anos cresceu mais de 35% na Irlanda ao longo da última década. Foto: istock

A Irlanda está envelhecendo mais rápido do que qualquer outro país da Europa, segundo dados do relatório Saúde na Irlanda, divulgado pelo Departamento de Saúde. O estudo alerta para os desafios que esse envelhecimento acelerado traz para o futuro do país, especialmente em relação à economia e ao sistema de saúde.

Atualmente, existem cinco trabalhadores ativos para cada pessoa com mais de 65 anos. No entanto, essa proporção deve cair para três para um nas próximas duas décadas, o que aumentará a pressão sobre os serviços públicos e sobre os cofres do Estado.

De acordo com o relatório, a população irlandesa com mais de 65 anos cresceu 35% na última década, mais de três vezes o ritmo de crescimento da população geral e em um ritmo mais acelerado do que em qualquer outra parte da Europa.

Diante desse cenário, a chegada de imigrantes torna-se uma necessidade para garantir a reposição da força de trabalho e a manutenção da economia ativa. Ainda assim, cresce entre parte da sociedade irlandesa o apoio a discursos contrários à imigração, muitas vezes impulsionados por figuras públicas como Conor McGregor, que vêm de contextos privilegiados e nunca precisaram deixar seu país em busca de oportunidades.

Embora a candidatura de McGregor à presidência seja pouco provável, o impacto de suas declarações no debate público é evidente. Ele tem reforçado sentimentos de rejeição a estrangeiros sob o argumento de "defender a cultura irlandesa". O desafio da Irlanda, agora, é distinguir o legítimo orgulho nacional de um perigoso discurso de intolerância contra quem vem de fora.



















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