Nos últimos meses, o caso de um ativista da República Democrática do Congo chamou a atenção. O jovem, cujo pai foi morto por razões políticas, havia solicitado asilo na Irlanda após também ser ameaçado. Mesmo com provas das perseguições, ele teve o pedido negado e foi deportado. Desde que desembarcou no aeroporto de Kinshasa, há seis semanas, está desaparecido.
Segundo a advogada de imigração Susan Doyle, o número de negativas cresceu expressivamente desde o aumento dos protestos anti-imigração no país. "Antes, um caso como esse teria sido aprovado com facilidade." Agora, o governo parece determinado a mostrar firmeza, mesmo quando há risco real para o requerente", declarou.
O ministro da Justiça, Jim O'Callaghan, vem liderando esse novo movimento. Dados oficiais indicam que, até 20 de junho de 2025, foram assinadas 2.120 ordens de deportação, o que representa um crescimento de 180% em relação a 2023. Neste ano, 106 pessoas já foram expulsas do país em voos fretados e outras 59 em voos comerciais. O custo total dessas operações ultrapassa 1 milhão de euros.
O advogado Cathal Malone também manifestou preocupação com a falta de estrutura e apoio jurídico. Ele informou que muitos solicitantes não recebem sequer a orientação de um advogado. “O número de profissionais da área continua o mesmo, mas os pedidos saltaram de 3.400 para 18.000 em poucos anos. Isso tem causado decisões precipitadas e injustas”, criticou.
Além disso, a única organização autorizada a examinar vítimas de tortura na Irlanda, chamada Spirasi, enfrenta longas filas de espera, que variam entre seis e doze meses. Isso impede que os solicitantes apresentem laudos médicos dentro do prazo necessário para a análise de seus casos.
Irlanda enfrenta escassez de mão de obra, mas mantém deportações
Paradoxalmente, a política de deportações colide com a necessidade urgente de trabalhadores em diversos setores na Irlanda. Um relatório recente do Instituto de Pesquisa Econômica e Social (ESRI) apontou que o país precisa de cerca de 80 mil novos profissionais para cumprir metas de habitação e infraestrutura.
Mesmo assim, imigrantes que atuam como assistentes de saúde, operários e técnicos da construção civil estão tendo seus pedidos de permanência negados. Um exemplo é o da família de Javeria Khan, que vive em Cork. Ela, o marido e os cinco filhos fugiram da África do Sul após sofrerem ataques motivados por xenofobia. A primeira negativa do pedido de asilo ocorreu justamente no dia do nascimento de seu filho mais novo.
O marido, de nacionalidade paquistanesa, foi impedido de viajar com a família e está desaparecido desde julho. “Se voltarmos, corremos risco de vida. A violência por lá é constante. Crianças desaparecem todos os dias”, relatou Javeria.
Governo irlandês justifica política com foco na segurança jurídica
Em nota enviada à imprensa, o Departamento de Justiça afirmou que a política de deportações visa manter a credibilidade do sistema migratório. Segundo o governo, a aplicação das leis é essencial para garantir o funcionamento das instituições e o respeito às normas vigentes.
As operações de remoção também envolvem altos custos. Entre fevereiro e junho de 2025, três voos fretados para a Geórgia e Nigéria custaram mais de 530 mil euros. Um contrato com a empresa Air Partner Ltd prevê um gasto total de até 5 milhões de euros em cinco anos. Serviços adicionais, como assistência médica e escoltas policiais, já somam mais de 46 mil euros apenas em 2025.
Especialistas em direitos humanos alertam que a pressa na análise dos processos, a ausência de assistência jurídica adequada e a falta de exames médicos comprometedores colocam vidas em risco. Para muitos, o objetivo do governo é conter a pressão da opinião pública, mas o preço pode ser a violação de direitos básicos.
Fonte: Irish Examiner
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