Governo irlandês surpreende com nova medida sobre refugiados

Governo irlandês surpreende com nova medida sobre refugiados

Metrovoz
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O número de ucranianos que solicitaram refúgio na Irlanda desde a invasão russa, há três anos, ultrapassou os 112 mil.Foto: Irlanda News

O governo da Irlanda avalia reduzir de 90 para 30 dias o período de hospedagem oferecido a refugiados ucranianos em acomodações custeadas pelo Estado. A proposta, apresentada pelo ministro da Justiça, Jim O’Callaghan, reacendeu o debate sobre a capacidade do país de acolher o grande número de pessoas que chegam fugindo da guerra.

Desde 2022, mais de 100 mil ucranianos buscaram abrigo na Irlanda, e cerca de 80 mil ainda vivem no país. Um relatório interno do Departamento de Justiça, vazado à imprensa, aponta que pelo menos 50 ucranianos continuam desembarcando diariamente em solo irlandês.

O documento também alerta que a capacidade de acolhimento pode atingir o limite até o fim de novembro, o que levou o governo a discutir mudanças urgentes na política de hospedagem.

Ministro fala em “generosidade” e necessidade de revisão

Jim O’Callaghan, Ministro da Justiça e Migração da Irlanda. Foto: Collins Photo Agency

Em entrevista à RTÉ News, o ministro Jim O’Callaghan declarou que o assunto será debatido com seus colegas de governo “em tempo oportuno”. Segundo ele, a Irlanda tem sido “extremamente generosa” com as medidas de apoio aos refugiados da Ucrânia, mas é preciso reavaliar o modelo atual diante da pressão sobre os recursos públicos.

“Quem chega à Irlanda atualmente tem direito a 90 dias de alojamento. Precisamos revisar esse prazo para garantir que haja espaço suficiente para todos os que chegam, pois não é possível oferecer acomodação indefinidamente”, afirmou.

Entre as propostas em estudo estão a recusa de pedidos de pessoas que tenham passado por outro país europeu antes de chegar à Irlanda, ou que já possuam proteção temporária(direito garantido pela União Europeia a refugiados de guerra, com acesso a moradia, saúde e educação) em outro Estado-membro da União Europeia.

O governo também considera reduzir ou até encerrar o Programa de Pagamento de Reconhecimento de Acomodação, que paga 600 euros mensais, livres de impostos, a famílias que hospedam refugiados ucranianos em suas casas.

Entidades alertam para impacto social e humanitário

Nick Henderson, do Conselho Irlandês para Refugiados, critica a redução do tempo de abrigo. Foto: Tom Honan

A possível redução do período de estadia preocupa organizações que atuam na defesa de imigrantes e refugiados. O diretor executivo do Conselho Irlandês para Refugiados, Nick Henderson, afirmou estar alarmado com as propostas.

“Estamos profundamente preocupados com o conteúdo dessas mudanças, especialmente com a ideia de encerrar o pagamento de reconhecimento de alojamento. Esse programa abriga cerca de 40 mil ucranianos em quartos e casas voluntariamente oferecidos por irlandeses”, disse Henderson.

Ele ressaltou que os refugiados não têm direito ao subsídio de habitação (HAP) nem à moradia social, o que torna praticamente impossível encontrar outro local para viver em apenas 30 dias. “O mercado de aluguel está saturado. Essa medida colocaria muitas pessoas em situação de vulnerabilidade”, afirmou.

O diretor também questionou se a redução do prazo seria compatível com a Diretiva de Proteção Temporária da União Europeia, que exige que os Estados-membros garantam moradia adequada aos refugiados vindos da guerra.

Comunidade ucraniana teme consequências da medida

Nadiya Ivannikova diz que os ucranianos procuram se adaptar à vida irlandesa. Foto: RTÉ

Líderes da comunidade ucraniana na Irlanda também criticaram a proposta, afirmando que ela ignora as dificuldades enfrentadas por quem tenta recomeçar a vida em um país estrangeiro.

Nadiya Ivannikova, diretora da Escola Nativa Ucraniana, destacou que muitos recém-chegados ainda buscam estabilidade e segurança após traumas da guerra. “As pessoas que vieram da Ucrânia querem, antes de tudo, um lugar seguro para seus filhos. Um mês não é tempo suficiente para encontrar uma casa ou se adaptar à nova realidade”, afirmou.

A educadora, que vive na Irlanda há 23 anos, relatou que as escolas ucranianas, fundadas para preservar a língua e a cultura, tornaram-se também centros comunitários de apoio emocional e social desde a invasão russa em 2022.

Educação e integração cultural seguem como prioridades

A Associação de Ucranianos na República da Irlanda, dirigida por Maria Starukh, tem coordenado aulas de língua ucraniana em várias cidades do país. Ela contou que escolas e centros comunitários irlandeses têm colaborado, abrindo espaço para atividades culturais e educativas.

“Agradecemos profundamente à Irlanda por todo o apoio. Mas sabemos que a questão da habitação é delicada. Faremos o possível para ajudar os ucranianos a enfrentar esse desafio, caso o prazo seja mesmo reduzido”, explicou.

Neonila Struk, professora em escola ucraniana localizada em Drogheda

Para Neonila Struk, professora em uma escola ucraniana em Drogheda(município localizado a cerca de 50 km ao norte de Dublin, na Irlanda), a proposta é impraticável. “Será muito difícil para pessoas que fugiram da guerra, muitas sem falar inglês, encontrarem um lar em apenas um mês”, avaliou.

Debate sobre acolhimento e capacidade do país continua

A decisão final do governo ainda não foi anunciada, mas as discussões já dividem opiniões na sociedade irlandesa. De um lado, há preocupação com a sustentabilidade do sistema de abrigo; de outro, cresce o temor de que a Irlanda reduza sua política de solidariedade justamente quando muitos ucranianos ainda dependem dela para sobreviver longe da guerra.


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