Em São Paulo, bancários foram às ruas da Avenida Paulista para protestar. Imagem:Vitor Tavares / BBC |
Nos últimos dias, mensagens alarmistas circularam em grupos de WhatsApp e Telegram alertando que o Banco do Brasil estaria prestes a quebrar por causa de sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. O tom das publicações ia de recomendações para “sacar imediatamente” o dinheiro a vídeos que previam um colapso no sistema financeiro.
A situação ganhou proporções tão grandes que a Advocacia-Geral da União (AGU) encaminhou uma notícia-crime à Polícia Federal, pedindo investigação sobre uma possível ação coordenada para espalhar pânico entre correntistas.
Como surgiram os boatos
O estopim para a onda de mensagens foi a inclusão de Moraes na lista de sanções da chamada Lei Magnitsky, usada pelo governo dos EUA para punir estrangeiros acusados de violar direitos humanos. Na prática, a medida impede que ele tenha contas ou cartões de crédito vinculados a instituições financeiras que operam no sistema americano.
Como ministros do STF recebem seus salários pelo Banco do Brasil, a narrativa distorcida começou a se espalhar: de que a instituição poderia ser afetada e até “quebrar”.
Um levantamento da empresa de análise Palver, que monitora mais de 100 mil grupos de WhatsApp, mostrou que o número de mensagens envolvendo o Banco do Brasil disparou entre 14 e 21 de agosto, com destaque para publicações de teor conspiratório.
O papel das redes sociais
Segundo especialistas, a estratégia usada foi típica de campanhas de desinformação: pegar um fato real,no caso, as sanções contra Moraes e misturar com teorias alarmistas. “A narrativa encontra brechas no medo histórico do brasileiro de perder suas economias, como aconteceu no confisco da poupança nos anos 90”, explicou o cientista de dados Lucas Cividanes.
Além de perfis anônimos, nomes políticos também ajudaram a amplificar a campanha. A própria AGU citou em sua notícia-crime deputados federais e influenciadores digitais que recomendaram a retirada de dinheiro do banco.
A resposta do Banco do Brasil
Para conter os rumores, o Banco do Brasil divulgou uma nota oficial em 22 de agosto reafirmando sua solidez e destacando que atua em conformidade com a legislação brasileira e com normas internacionais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também comentou o episódio e classificou as mensagens como ataques coordenados de grupos ligados ao ex presidente Jair Bolsonaro. Sindicatos de bancários realizaram manifestações em defesa da instituição, ressaltando o papel estratégico do banco para a economia nacional.
Crise contida, mas alerta ligado
Com a rápida reação do governo e da própria instituição, o número de mensagens sobre a suposta “falência” começou a cair. Ainda assim, especialistas destacam que o episódio serve de alerta sobre como notícias falsas podem afetar não apenas a reputação de uma empresa, mas também a confiança no sistema financeiro de um país.
“Uma mentira bem contada nas redes sociais pode se transformar em pânico coletivo em questão de horas. Esse caso do Banco do Brasil mostra o poder e o perigo da desinformação”, avaliou Cividanes