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Qual é a estratégia de Trump? O Presidente surpreende ao elogiar Lula durante a ONU, Foto: Divulgação/Freepik/Ricardo Stuckert/ND |
Durante a Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (23), o comentário do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) surpreendeu, destoando do tom adotado pelo governo norte-americano nos últimos meses e gerando especulações sobre uma nova abordagem diplomática.
Após um discurso de Lula cheio de críticas veladas aos Estados Unidos, o presidente brasileiro deixou o palco e foi acompanhado por Trump, em um momento de tensão crescente entre os dois países.
O ex-presidente americano interrompeu seu próprio discurso para revelar que havia cumprimentado Lula nos bastidores da Assembleia, marcando o primeiro encontro presencial entre ambos.
“Combinamos de nos encontrar na próxima semana. Ele parece um homem muito simpático. Ele gostou de mim e eu gostei dele. Só faço negócios com quem me agrada. Quando não gosto, não gosto. Mas, por pelo menos 39 segundos, tivemos uma química excelente. É um bom sinal”, declarou Trump.
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A manobra de Trump ao saudar Lula visa proteger o dólar, avalia cientista político, Foto: Reprodução/Nações Unidas/YouTube/ND |
Apesar dos elogios, o ex-presidente norte-americano voltou a criticar o Brasil e justificou a imposição de tarifas, alegando que elas são uma “resposta a tentativas sem precedentes de interferir nos direitos e liberdades de cidadãos americanos, com censura, repressão e manipulação judicial visando críticos políticos nos Estados Unidos”.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esclareceu que o encontro programado entre os dois líderes será realizado por telefone, devido à agenda intensa de Lula. Analistas interpretam a decisão como uma medida para evitar constrangimentos públicos na Casa Branca, similar ao que ocorreu com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em fevereiro.
Analistas discutem a estratégia de Trump ao mencionar Lula
A esquerda interpreta a iniciativa como um recuo na pressão estadunidense e uma abertura para negociações. Já setores da direita enxergam os elogios como uma manobra estratégica de Trump para criar uma “armadilha” política em torno de Lula.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) comentou que não se surpreendeu com o gesto e destacou a habilidade do ex-presidente americano como negociador:
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A demonstração de simpatia faz parte da estratégia de Trump e evidencia sua habilidade como negociador, afirma Eduardo, Foto: Redes sociais/Eduardo Bolsonaro/Joyce N. Boghosian/White House/ND |
“Ele aplicou sua estratégia usual: aumentou a tensão, exerceu pressão e depois se reposicionou com ainda mais força na mesa de negociações. Agora, Lula tem a oportunidade de extrair resultados positivos dessa rara chance de diálogo”, afirmou.
Fabio Andrade, cientista político e professor de Relações Internacionais na ESPM, observa que a movimentação de Trump tem relação direta com a defesa do dólar e os interesses econômicos dos EUA.
“Existem duas interpretações possíveis: suavizar a dureza do próprio discurso de Trump na ONU ou atender a pressões de empresários norte-americanos que sofrem com as tarifas sobre o Brasil. Além disso, o país vem se aproximando dos BRICS e da China. Esse gesto pode ser visto como uma tentativa de aproximar o Brasil ou afastá-lo da influência chinesa e russa”, explicou.
O especialista acrescenta que a ação de Trump contrapõe-se à defesa do multilateralismo, das organizações internacionais e da economia sustentável apresentada por Lula, reforçando o interesse dos EUA na manutenção do dólar como referência internacional.